sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Meditação

from The Dark Side of the Moon


pensamentos em 09-10-2007 8:36
Ontem o vento estava forte quando sai do barco, vinha de conversa com uma colega e não me apercebi, depois quando nos separamos dei por ele. Aproximei-me do molhe e senti-o com vigor a massajar-me a face, estive ali parado durante minutos apenas sentindo-o, ouvindo-o a cantar, sentindo o seu cheiro salgado. Às vezes interrogo-me como as coisas mais simples podem ser as mais belas.
Sempre adorei o vento, talvez por ter vivido em Lagos, talvez por qualquer desequilíbrio energético. O certo é que gosto de o sentir, dá-me um prazer incrível passear ao vento. Recordei-me de um passeio na praia, ao pôr-do-sol, aliás não era assim tão diferente, ali ao pé rebentavam pequenas ondas, o cheiro a maresia pairava no ar e o sol punha-se pintando as esparsas nuvens de um tom rosa choque.
Nem um pensamento abordou a minha consciência, só o prazer transmitido pelos sentidos. Respirei aquele ar salgado profundamente e senti-o a penetrar nos pulmões e a misturar-se no sangue, tomando o lugar do CO2 que acabei por expulsar no fim do ciclo da respiração. A minha mente, apesar de cansada após um dia longo de trabalho, ficou mais fresca, mais desperta. Porém uma pequena dor no pescoço, que tinha começado a manifestar-se ainda no trabalho, teimava a estar lá, no entanto não me incomodava, apaguei-a do meu consciente, aliás apaguei o meu consciente e continuei ali a ouvir e a sentir o vento.
Ao fim e ao cabo trata-se de uma espécie de meditação. Para mim meditar é sempre uma experiência libertadora, às vezes esqueço-me, não tenho tempo ou estou demasiado cansado. Como já referi a vida actual é uma correria, estamos sempre à pressa, sempre contra-relógio. Muitas vezes não temos tempo para aquilo que é de facto importante – VIVER. O acto de meditar faz parte da vida, ajuda-nos a acalmar a mente, tal como o dormir, meditar é fundamental para o nosso equilíbrio mental, talvez por ser tão menosprezada hoje em dia é que estamos a viver numa sociedade cada vez mais esquizofrénica.
Meditar não tem nada de esotérico, lembro-me de uma conversa com o director comercial da Ameritec para a Europa há uns anos atrás. Ele provinha de famílias tradicionais inglesas e contou-nos a respeito de um vinho do Porto que lhe recordava a sua juventude, que se lembrava claramente do pai sentado à lareira a fumar um "Romeo e Julieta" e a beber um cálice desse vinho. Ele ficava ali em silêncio observando as labaredas, enquanto bebia e fumava. Isto é uma forma de meditar. Já escrevi aqui que um dia estava só na praia e resolvi meditar enquanto tentava sincronizar a minha respiração com as ondas. É preciso descobrir o nosso ritmo nos muitos que o Oceano tem, mas a recompensa é muito gratificante.
Claro que com toda esta loucura que se vive hoje em dia é muito complicado parar para não pensar, os problemas assolam-nos, é a taxa do crédito à habitação que não pára de subir e nos sufoca, é a situação no trabalho que está cada vez mais precária e desumanizada, é o custo de vida que não pára de subir acima dos salários. Todos temos muito graves motivos para andar sempre com a mente ocupada. Mas apesar disso, ou talvez mesmo por causa disso, devemos arranjar um momento para nos descontrairmos, para atirar para trás das costas todos os problemas. Tenho de confessar que até sou um privilegiado vivo ao pé do mar e da mata, para além disso tenho uma forte aliada – a música, seja o David Gilmour, os Pink Floyd, os Tangerine Dream, o Vangelis ou simplesmente a música do vento ou das ondas.
Às vezes é o q.b. escutar serenamente a música do vento ou o ritmo das ondas, tão menosprezados e no entanto tão belos. Fico a pensar que a nossa sociedade só dá valor a tudo aquilo que é pago, quantas pessoas vemos parar para admirar um pôr-do-sol? Se calhar se aparece-se uma marca a patrociná-los e começa-se a cobrar para os vermos, as audiências iriam subir.


Fiquem Bem!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

On An Island 3


Marina de Vilamoura (scan de uma foto já perdida no tempo)

O nevoeiro acompanhou-me até à porta de casa convidando-nos a entrar, a lareira crepita na sala, sentamo-nos na sua frente. Retiro do bolso as pedras que recolhi na praia colocando-as junto às labaredas que as aquecem. Após estarem na temperatura certa, uso-as para lhe fazer uma relaxante massagem. Voltamos a beijar-nos e deixamos os nossos corpos unirem-se, não trocamos uma única palavra, não precisamos basta olhar profundamente nos olhos e sabemos o que cada um quer dizer ao outro. As nossas sombras dançam na parede oposta impulsionadas pelo saltitar das chamas. Beijamo-nos mais uma vez, a nossa respiração está ofegante e por fim apertamo-nos ainda mais num momento de prazer supremo.
Voltou a calma, aquela paz, aquela serenidade. Voltei a pôr o disco, ajeito os troncos na lareira de modo a intensificar as chamas, volto deitar-me ao lado dela e abraço-a olhamos pela janela e vemos a lua desenhar as sombras dos pinheiros no chão, a voz do David Gilmour começa a ouvir-se e murmuramos as letras com ele…

On An Island

Remember that night...
White sails in the moonlight
The
y walked it too...
Through empty playground, this ghost's town
Children again on rusting swings getting higher
Sharing a dream
On an Island.... it felt right
We lay side by side,
Between the moon and the tide
Mapping the stars for a while
Let the night surround you
We're half way to the stars,
Ebb and flow
Let it grow..... feel the warmth beside you

Remember that night,
The warmth and the laughter
Candles burn...
Though the church was deserted
At dawn we went down through empty streets to the harbour
Dreamers may leave ...but we're here everafter...
Da da da da da....
Let the night surround you
We're half way to the stars,
Ebb and flow
Let it grow..... feel the warmth beside you...

Fim (por agora)

Fiquem Bem!

domingo, 7 de outubro de 2007

On an Island 2


Belém 28/08/2007

Concentro-me a olhar para o mar, ali ao lado, está calmo agora. Ao longe uma vela recorta-se no horizonte, entre dois tons de azul, desloca-se lentamente, a paz invade-me, uma paz profunda, serena. Os acordes da viola levam-me até ao veleiro onde me deito numa rede observando o azul profundo do céu. Um Albatroz desloca-se através da esfera celeste sem um único batimento de asas e afasta-se, placidamente.
Respiro fundo, o vento aumenta de intensidade acelerando o barco, a proa corta as ondas, salpicos de agua atingem-me a cara, olho pela popa e observo o risco que a esteira desenha na superfície do oceano, ainda assim impera a calma, respiro fundo mais uma vez. Uma sensação de calor apropria-se do meu peito, a velocidade aumenta, mas a serenidade subsiste. O vento assobia nos brandais, o clímax foi atingido, um momento orgásmico.
Aquela sensação de doce cansaço invade-me enquanto oiço os acordes de saxofone de “Red Sky at Night” e os céus tomam esse tom do pôr-do-sol filtrado pelas nuvens, de vez em quando uma suave aragem acaricia-me a cara e provoca um arrepio nas águas do mar. Sinto-me no céu, aliás condizendo com o que estou a ouvir agora “This Heaven”, nada tem importância agora, apenas eu e esta paisagem deslumbrante. Baloiço na rede acompanhando o ritmo da música.
Chego a terra, ouve-se as ondas a espreguiçarem-se no cascalho da praia, arrumo a palamenta, caiu um manto de nevoeiro e ouve-se ao longe a sirene do farol, alertando da proximidade de rochedos, ainda de vê o seu clarão no meio de nevoeiro. Fecho os olhos e inspiro aquele cheiro a maresia, sinto-me a flutuar no nevoeiro, lentamente, deixo o ar escapar lentamente ronronando de prazer, para voltar a encher os pulmões. Um sorriso invade a minha cara quando a vejo junto da porta de casa entreaberta, abraço-a e beijamo-nos ternamente, acaricio-lhe o cabelo e contemplo o seu belo e sereno sorriso enquanto encosta a cabeça no meu ombro. Deixo-me ficar ali admirando aquele sorriso terno e sentido o calor do seu corpo enroscado no meu.
ContinuaFiquem Bem!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

On An Island


O meu cantinho em 23/03/2006

Acho que ainda não falei deste álbum, talvez dos mais belos dos últimos anos, na minha perspectiva o melhor deste século. A sensação que me transmite é de uma profunda paz e serenidade. David Gilmour aparece aqui mais maduro, menos agressivo, menos depressivo. Um verdadeiro hino à felicidade e à calma. Só muito raramente um disco consegue transmitir tanta tranquilidade. SUBLIME.

Fechei os olhos e imagino-me a olhar para um lago cujas águas imaculadas pela ausência de qualquer brisa, reflectem um castelo numa ilha. O horizonte perde-se na bruma, ao longe ouve-se o som grave, quase cavernoso, das ondas do mar embatendo nos rochedos. Está frio, um frio seco, quase cortante, o céu coberto de nuvens que apesar do seu aspecto tempestuoso, combinam nesta paisagem conferindo uma moldura a todo este quadro. Sente-se alguma electricidade no ar, ouve longínquo um trovão, e nota-se claramente o cheiro da iminência da chuva.
A tarde aproxima-se do fim, pequenos bandos de aves cortam o ar a caminho dos seus ninhos, deixando aqui e ali escapar um trinado. Ao longe sobre as falésias adivinha-se o habitual frenesim de fim de tarde das gaivotas, do outro lado nas colinas que se adivinham verdejantes no cinzento da bruma, um rebanho de ovelhas pasta pachorrentamente, ouve os seus sinos assim como o latir dos cães pastores que se afadigam a reagrupar as que se tresmalham. Não sinto qualquer pressa nem vontade de abandonar este local mágico, olho para o relógio e verifico que os ponteiros estão parados. As sombras também não se movem, o tempo ficou congelado num longo segundo. Não reajo, não tenho fome, nem sede, nem cansaço, nem stress.

Continua - Um parêntesis para informar que devido à extensão do texto tive de cortá-lo. Irei publicar os diferentes excertos nos próximos dias. Um conselho, faz todo o sentido ler o texto acompanhado pela música, pois foi ouvindo-a que encontrei inspiração para escrever.

Fiquem Bem!