sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Surfing Ericeira


Durante anos foi assim que vi o Surf, ao longe. Na adolescência tentei fazer uma prancha, mas na primeira tentativa de apanhar uma onda partia-a. Tentei ingloriamente construir outra, mas faltava-me material, ferramentas mais apropriadas e skills.

Fiquei pelo marulho, hoje conhecido por bodysurf e ao bodyboard sempre que arranjava uma prancha. Levava horas a apanhar ondas e a terminar na areia umas vezes direito outras completamente enrolado. Dava-me especial gozo apanhar a onda com a cabeça totalmente enfiada debaixo de água com os olhos fechados, sentir a água a fluir pelo corpo, tirar partido do fluxo da onda e deslizar até à areia ou até acabar o ar nos pulmões.

Mas aquela mágoa de não puder pôr de pé a deslizar nas vagas nunca me deixou. Comprar uma prancha era impossível, no Algarve não havia lojas de surf, nem escolas, nem nunca se tinha visto uma prancha nas mãos de estrageiros, não existia internet para comprar online. Quando estava nos Comandos tive um camarada de Cascais que era surfista, perguntei-lhe onde comprar uma prancha e ele contou-me que ele tinha comprado a um americano que tinha ido passar férias a Cascais, anos mais tarde o Ulisses contou-me o mesmo, que as primeiras pranchas que comprou foi a estrageiros (americanos e australianos) que vinham a Portugal surfar e que quando tinham um acidente com a prancha acabavam por vendê-las cá.

Aqui faço um aparte, para aguçar mais essa paixão havia publicidade do Old Spice! Com um surfista ao som da Carmina Burana (também havia outra com um veleiro no meio das ondas com a mesma música, mas deste desforrava-me a navegar nos 270, Bonitos, Vauriens e Stars da Escola Náutica de Lagos) eram sublimes esses reclames, nada têm a ver com os actuais da Old Spice de muito mau gosto, diria até estúpidos.

Uns anos depois quando trabalhava no Cofre um colega – o Orlando Pires – que era tio do Tiago “Saca” Pires e contagiou-me o vício de ver as provas do WCT pela net. Estava escrito que eu tinha de aprender a surfar, mas ao partir para o estrageiro para trabalhar esse desejo voltou a ficar arquivado.

Mas depois voltei para Portugal, quando procurava casa eu e a Angélica pensamos vamos para onde? Sesimbra e Ericeira tinham os preços mais convidativos, Ericeira a capital do Surf, a escolha ficou feita! Depois foi uma questão de tempo e de oportunidade, na véspera de completar os 59 anos comprei um fato de surf e dirigi-me a uma das muitas escolas de surf da Ericeira, no caso a Blue Ocean do Ulisses Reis. E lá comecei com umas lições e depois comprei uma prancha usada e sempre que podia lá vou apanhar umas onditas, ou melhor ser apanhado, pois os wipeouts são muito mais que os rides.

Mas sempre com uma coisa em mente:


Não há um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho.