domingo, 25 de janeiro de 2015

Sagres

Há lugares no mundo que deixam uma marca profunda na nossa alma, Sagres sempre me fascinou, foram inúmeras as vezes que visitei o promontório e o cabo "onde termina o mundo" por terra, só ou acompanhado este sempre foi um local quase místico. Aliás para os povos da antiguidade era mesmo um lugar místico. Os Celtas chamaram-lhe o promontório dos Deuses. Outros povos achavam que era ali que o mundo terminava, era ali que começava o mar das trevas.

O Infante mudou tudo isso, mas a mística ficou agarrada àquelas pedras de forma indelével. Em todo o lado sente-se o peso da história, nas muralhas, nas velhas caraças dos canhões gastas pelos anos e pelo salitre, nas paredes do velho templo, na misteriosa rosa dos ventos, nas furnas que descem até ao mar pelo ventre da terra.

Mais a oeste vislumbra-se o cabo de S. Vicente com o seu farol, o ponto mais a sudoeste da Europa, a ponta do velho Continente que aponta para o Novo Mundo, entre ambos uma enseada com vários recantos e um charmoso Castelo hoje transformado numa unidade turística.

Mas nada do que se vê de terra é mais esmagador que a vista a partir do mar! A primeira vez que admirei esta paisagem a partir do reino de Neptuno, foi a bordo do paquete Funchal. Ainda hoje, passados 35 anos, revejo esse momento com uma claridade cristalina. Estávamos a jantar, pelas janelas comecei a ver desfilar a praia da Bordeira, depois o Castelejo, não esperei mais, saí para o convés e debrucei-me na amurada. Ouvia-se Wagner, os penhascos erguiam-se altivos, deslumbrantes à luz do pôr do sol, o navio aproximou-se tanto como as regras de segurança permitiam, deixando os mais pequenos pormenores ficarem expostos aos meus olhos.

Aos poucos fomos contornando o cabo de São Vicente e dirigindo-nos para Sagres, Wagner continuava a tocar pelas colunas do navio, olhei à minha volta, estava só contemplando a mais bela paisagem que jamais vira.

Dias antes tinha visto um rosto que também havia marcado a minha alma, tinha aparecido e depois perdera-se na multidão que polula nas noites estivais de Lagos. Receei não mais voltar a rever tão marcantes imagens. Fiquei por ali, a   noite caiu fiquei apreciando as luzes do Algarve: Burgau, Luz, Lagos, Alvor, Portimão.

Perguntei-me se voltaria a ver Sagres do mar... e aquele rosto lindo de morrer. Voltei para Lagos procurei-a, não mais a vi.

16 anos depois voltei a cruzar aquelas águas, desta vez no meu pequeno veleiro, voltei a procurar aquele rosto fugidio no meio da multidão. Sagres vista do mar voltou a mostrar-se em todo o seu esplendor num mar estanhado, lá em cima pareceu-me vê-la! Toquei a sirene, abanei freneticamente os braços... Não. não era ela, tenho agora a certeza.

Passaram outros 16 anos, olhando para um quadro de fotos em casa de alguém que conhecera à poucos dias volto a rever aquele rosto fugidio! Aquela cujo o rosto para sempre ficou gravado na minha alma como as imagens daqueles rochedos imponentes.

Redijo estas linhas a seu lado, contemplo o seu rosto sereno e belo. A noite vai adiantada, não tarda estarei abraçado a ela no nosso leito, sonhando com uma viagem a seu lado contemplado aquela paisagem divina uma vez mais.



Tal como as ondas do oceano que acabam rebentando sobre terra, também nós acabamos por encontrar quem amamos profundamente.

2 comentários:

  1. Senti um arrepio.... Encontramo-nos e ninguém nos vai separar. Amo-te Muito Meu Marido. 💌💕 💋

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    1. Atravessei desertos e montanhas, enfrentei tormentas e até o adamastor só para te reencontrar. AMO-TE MUITO!

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